domingo, 22 de março de 2009

Para quem gosta de Maria Bethânia, música e poesia.

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Eu estava lendo o jornal, naquela rotina de domingo com café preguiça, e me chamou a atenção um artigo da Folha Ilustrada: Shows raros de Maria Bethânia caem na internet. Eu gosto de muitas coisas dela, mas principalmente do show Drama – 3º ato (1973), uma raridade. Conheci esse disco, anos depois do seu lançamento, quando uma amiga da faculdade o levou como sugestão de um trabalho. Eu me apaixonei por ele, ouvi muito e muito, mas nunca mais o vi em lugar algum. Há alguns anos atrás, comprei uma cópia precária dele num sebo que vendia reproduções bem caseiras de discos antigos. Aquelas só para gente matar a saudade mesmo.


Pois bem, acabei de baixá-lo - completo e com o som perfeito - no blog Maria Bethânia Re(verso) indicado pelo jornal, aliás, muito simpático e bem feito. Aproveitei para baixar outras raridades, como Rosa dos Ventos (1971) e A Hora da Estrela (1984). Esse último é uma homenagem de Maria Bethânia à Clarice Lispector. Bethânia canta e declama, lindamente, trechos como esse:

“Eu te conheço até o osso por intermédio de uma encantação que vem de mim para ti. Só há uma coisa que me separa de ti: o ar entre nós dois. Às vezes para ultrapassar esse quase cruel afastamento, eu respiro na tua boca que então me respira e eu te respiro. Mas só por um único instante, senão sufocaríamos-nos: seria o castigo que se recebe quando um tenta ser o outro”.

Nesses álbuns tem muito de Chico Buarque, Caetano Veloso... muita coisa boa! Há também, no tal artigo, uma indicação para discos da Elis Regina, mas esse ainda não deu tempo de dar uma olhadinha. De qualquer forma, aí fica a dica! :D

* Aproveitando, um pouco mais de Clarice Lispector no diálogo entre Glória e Macabéa, em A hora da estrela.

- Por que é que você me pede tanta aspirina? Não estou reclamando, embora isso me custe dinheiro.

- É para eu não me doer.

- Como é que é? Hein? Você se dói?

- Eu me dôo o tempo todo.

- Aonde?

- Dentro, não sei explicar.

Eu me dôo o tempo todo... E não há aspirina que alivie essa dor. A dor de viver. Acho que tenho dores de cabeça desde que nasci. Já ouvi muitas explicações sobre suas possíveis causas. Uma delas, de que a dor serve para não pensar. No meu caso, não faz efeito. Não faz com que eu pare de pensar, nem pare de sentir. Apenas faz com que eu me doa. Viver dói, desde o momento em que nascemos. Nossos olhos doem, até que se acostumem com a luz; nossos ouvidos doem, até que se acostumem com os sons; nosso pulmão dói, até que se acostume com o ato de respirar. Todos os nossos órgãos precisam se acostumar a funcionar, e doem muito até que o processo se complete. Mas há algo, lá dentro, que não pára de doer nunca. A dor da alma... E não há anti-depressivo, ansiolítico, nada que dê jeito. Talvez eu mesma seja responsável por essa dor. Porque, em algum momento, decidi viver com intensidade e, após tomada essa decisão, nunca mais pude voltar atrás. Não há atalho que me leve ao leve caminho do não-doer. Porque esse seria o não viver. Comigo, não funciona...

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